Em 2023, a Acesso Cultura celebra 10 anos de vida. Dez anos de “acção, atitude e uma luz”, como nos disse uma vez uma pessoa que participou nos nossos cursos. Ao longo do ano, iremos desenvolver várias iniciativas, que serão divulgadas nesta página e nas quais esperamos encontrar-vos.
A Acesso Cultura tem como missão promover o acesso – físico, social, intelectual – à participação cultural. Trabalhamos procurando contribuir para a construção de uma sociedade curiosa e inclusiva, na qual qualquer pessoa possa sonhar, ter oportunidades para participar e ser o melhor que puder.
Ao longo destes 10 anos, o acesso e a inclusão passaram a fazer parte natural do discurso dos profissionais do sector cultural. Centenas de profissionais têm participado em cursos de capacitação, conferências e debates públicos organizados pela Acesso Cultura. Assim, conseguimos criar uma massa crítica considerável, que questiona intenções e práticas, cada vez mais consciente da necessidade de conhecer e defender os direitos culturais de qualquer pessoa.
Às vezes, no entanto, a distância entre a teoria e a prática é muito longa. Ao mesmo tempo que celebramos os pequenos passos dados para a melhoria das condições de acesso, não perdemos a consciência do muito que há por fazer. É preciso reflectir e debater, mas é igualmente preciso actuar. Enquanto não actuamos, as pessoas vêem as suas oportunidades de participação condicionadas. Um país que pretende ter uma democracia de qualidade e que entende a importância do saber cuidar, da felicidade e do bem-estar para a construção desta democracia, não se pode dar ao luxo de excluir.
Desde 2013 e através de múltiplas consultorias, estudos e publicações, a Acesso Cultura tem procurado colaborar e ajudar o sector cultural português a identificar e eliminar:
Barreiras físicas: Obstáculos naturais ou artificiais (estruturais) que impedem a aproximação, transferência ou circulação no espaço, mobiliário ou equipamento urbano de pessoas com mobilidade condicionada.
Barreiras intelectuais: Barreiras que impeçam ou dificultem a participação cultural de pessoas que: têm baixa literacia; não possuem conhecimento técnico e/ou científico especializado; têm deficiências ou incapacidades sensoriais – por exemplo, pessoas com deficiência visual, pessoas S/surdas, pessoas com deficiência intelectual, pessoas neurodivergentes; pessoas cuja primeira língua não é o português; entre outras.
Barreiras sociais: situações sociais que possam constituir motivo de dificuldade no acesso à participação cultural, por exemplo: nível de escolaridade, iliteracia, desemprego, proveniência étnico-racial, deficiência, isolamento social, escassez de oferta cultural na zona onde uma pessoa reside, isolamento geográfico, baixos rendimentos, cumprimento de pena judicial; entre outros.
Alguns dos projectos mais marcantes nestes 10 anos foram:
- A criação da Rede de Teatros com Programação Acessível (2021), com o apoio do BPI/Fundação La Caixa;
- A publicação do manual “A participação cultural das pessoas com deficiência ou incapacidade: como criar um plano de acessibilidade” (2020), uma encomenda da Câmara Municipal de Lisboa / Polo Cultural Gaivotas|Boavista;
- A criação e gestão do website Cultura Acessível (2018), com o apoio da Fundação Millennium BCP;
- A organização das jornadas “Além do físico: barreiras à participação cultural” (2017), com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian;
- O curso de formação de audiodescritores (2022), que contou com o apoio das Direcções Regionais de Cultura do Norte, Algarve e Madeira, e ainda das Câmaras Municipais do Funchal e do Porto e do El Corte Inglés;
- A publicação do manual “A inclusão de migrantes e refugiados – O papel das organizações culturais” (2016)
- A introdução de Sessões Descontraídas em Portugal (2016): sessões de teatro, dança, cinema ou outro tipo de oferta cultural numa atmosfera mais descontraída e acolhedora e com regras mais tolerantes no que diz respeito ao movimento e ao barulho na plateia/sala. Destinam-se a todos os indivíduos, famílias e grupos em geral que preferem ou beneficiam de um ambiente mais descontraído (pessoas com défice de atenção, pessoas com deficiência intelectual, pessoas com condições do espectro autista, pessoas com deficiências sensoriais ou de comunicação, etc).
É importante ainda referir a atribuição, desde 2014, dos Prémios Acesso Cultura, que pretendem dar maior visibilidade a profissionais e entidades que se diferenciam pelo desenvolvimento de políticas exemplares e de boas práticas na promoção da melhoria das condições de acesso – nomeadamente físico, social e intelectual – à participação cultural em Portugal.
Em 10 anos, muitas coisas mudaram, outras nem tanto. A lentidão da mudança pode, às vezes, tornar-se frustrante e desmotivante. No entanto, sabemos que não estamos sozinhos e que esta “família” – que envolve colegas, organizações culturais, parceiros públicos e privados – está a crescer todos os dias, assim como a sua determinação.
“Percebi que, às vezes, é nas pequenas coisas que se quebram as maiores barreiras”, escreveu-nos uma pessoa depois de um curso de capacitação. Este retorno, vindo de colegas, permite-nos manter o foco e continuar a trabalhar e a evoluir. Continuamos muito empenhados e curiosos, abertos e sinceros. O que nos move é poder ver que qualquer pessoa neste país, independentemente de onde vem e onde vive, possa ser o melhor que puder.