Ciclo de Seminários

18 de Janeiro: Judite Primo
25 de Fevereiro: Margarida Silva
29 de Março: André Murraças
26 de Abril: Diana Niepce
10 de Maio: Ana Pérez-Quiroga
14 de Junho: Marco Paiva com Joana Honório e Rui Fonseca

Horário: 18h-21h
Consulte em baixo as sinopses e notas biográficas dos nossos convidados

O programador britânico Madani Younis disse na conferência do ISPA em Janeiro de 2020 que “Generosidade não é justiça. E inclusão não é equidade.” Percebemos com isto que, apesar das palavras diversidade e inclusão surgirem com bastante frequência no discurso das organizações culturais e dos seus profissionais, não temos plenamente noção do que significam, do que representam e do impacto que têm (ou deveriam ter) nos nosso trabalho e na nossa relação com a sociedade.

Como acompanhamento ao curso Diversidade e Inclusão, realizamos este ciclo de 6 seminários, que nos permitirão conhecer melhor o percurso de seis profissionais da cultura, não só como profissionais do sector, mas também como espectadores e visitantes.

Público-alvo

Directores e gestores de espaços e projectos culturais, artistas, profissionais da comunicação e da mediação / serviços educativos.

Programa e bionotas

18 de Janeiro: Judite Primo

Neste seminário, reflectiremos sobre a teoria e prática dos museus no que diz respeito à resolução de problemas socioculturais. O foco será no respeito pelas populações, as suas memórias colectivas e patrimónios, bem como o legado dos seus antepassados. Com espírito criativo, vamos fazer um exercício reflexivo, ético e de rigor profissional face aos desafios da actualidade. Mais concretamente, iremos abordar as seguintes temáticas:

  • Os museus na sociedade contemporânea face à diversidade cultural, equidade e justiça cognitiva – um conceito adoptado por Boaventura de Sousa Santos que significa a aceitação de outros saberes, outras leituras, outras formas de conhecer a realidade;
  • Formas e perceções de instituições museológicas nos tempos actuais;
  • Decolonialidade: alicerces; poder da narrativa; matriz do poder da colonialidade; política de identidade; autores de referências, conceitos e contextos;
  • Traumas históricos: Identificação; Esquecer ou tratar?; Existem recursos na História e na Museologia para trabalhar os traumas históricos?
  • Patrimonialização e Musealização: Testemunhos; Memórias; Construção de narrativas e e sua transformação ao longo dos tempos; o diálogo como método e recurso educativo nos processos socioculturais.

Judite Primo é doutorada em Educação (Universidade Portucalense Infante D. Henrique -2007), Mestre em Museologia (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – ULHT – 2000) e graduada em Museologia pela (Universidade Federal da Bahia – 1996). Titular da Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural”; Investigadora Principal FCT “Education, Citizenship and Cultural Diversity: Theory and practice of Sociomuseology” CEECIND/04717/2017, desenvolvendo atividade de I&D no quadro do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED). Ente 2007 e 2019 Coordenou o Doutoramento e Mestrado em Museologia da ULHT. Diretora do conselho Editorial da Revista Cadernos de Sociomuseologia. Tem experiência na área da Sociomuseologia com ênfase na Teoria Museológica, Políticas Culturais, Género e Estudos Decoloniais.

25 de Fevereiro: Margarida Silva

Neste seminário, trarei uma reflexão sobre o meu processo de crescimento e aprendizagem enquanto profissional na Cultura e espectadora, enquanto cidadã de dois mundos e de nenhum.

  • Como funciona isto da representatividade dentro das organizações que (também) trabalham para a inclusão?
    (Do we practice what we preach?)
  • Que recursos internos podem ser usados para a transformação de narrativas de exclusão/omissão em narrativas e processos inclusivos?
  • Como promover mudanças de paradigma, com abertura ao diálogo e discussão, por oposição ao fazer por fazer e dizer que se fez?
  • Como promover a participação em processos de decisão e operacionalização?
  • Qual a mudança que quero ver? Como fazer parte dela? Como chamar para cima do palco quem tem o hábito de entrar no teatro?

Margarida Silva tem um Bacharel em Comunicação Empresarial e conta com 19 anos de funções em serviços do Ministério da Cultura (MC). Entre 2001 e 2011, na ex-Secretaria-Geral do MC, desempenhou funções de Secretariado de Direção. Em Outubro de 2011, seguiu para a DGArtes, com as mesmas funções e, depois, na área da Comunicação, destacando-se o envolvimento nos projectos Pegada Cultural – Artes e Educação, EEAGrants 2009-2014; Audições para a Orquestra de Jovens da União Europeia; Representação Oficial Portuguesa na Bienal de Veneza (2012-2017). Entre Fevereiro de 2018 e Novembro de 2020 integrou a equipa de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais do GEPAC – Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais, destacando-se a participação nos projetos: Sala Criativa, que desenvolve metodologias de trabalho colaborativo; OPP – Orçamento Participativo Portugal; Da Habitação ao Habitat (IHRU); De Fenais a Fenais (Direcção Regional de Cultura dos Açores); Participação da Cultura na Futurália, entre outros, com abordagens que promovem a Cultura como motor de desenvolvimento social, territorial e económico. Em Novembro de 2020 iniciou funções como Project Officer na área da Comunicação, na Portugal Film Commission.

29 de Março: André Murraças

Este seminário pretende realçar a importância da História não contada e o impacto de determinados objectos artísticos como portas de entrada e saída do universo Queer português. Partindo da minha experiência pessoal como dramaturgo e encenador no encontro com esses acontecimentos (nem sempre visíveis) e da fruição de algumas obras artísticas nos anos 90, tentaremos perceber que choques foram estes contra uma sociedade normativa e a sua relevância para o meu desenvolvimento artístico. Para reflectir sobre como nos relacionamos com a História Queer portuguesa escondida e a memória pessoal serão mencionados os filmes do Repórter X, o romance O Barão de Lavos (obra escandalosa de Abel Botelho, que data 1891 e onde se vê das primeiras representações homossexuais na literatura portuguesa), A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro (com um sinistro trio amoroso nunca antes visto), passando pela polémica da Literatura de Sodoma (que contou como intervenientes António Botto, Raul Leal e Judith Teixeira), o caso Valentim de Barros, terminando nos shows travesti do Finalmente, e sem esquecer a relação da SIDA com as artes em espectáculos como, por exemplo, Terminal BarA minha Noite com Gil, ou Angels in America, Miss Coco Peru e The Night Larry Kramer Kissed Me – trazidos ao público português em eventos como a Lisboa 94 e Monumental 95, onde deitámos um olhar às temáticas gay através do teatro. E que efeitos tiveram estes acontecimentos e objectos artísticos nas nossas vidas? Que nos dizem eles da sua época e como nos ajudaram a definirmo-nos como artistas e cidadãos?

André Murraças estudou Realização Plástica do Espectáculo na Escola Superior de Teatro e Cinema e acabou com distinção o Master of Arts in Scenography da Hogeschool voor de Kunsten, em Utrecht, na Holanda. Foi encenador, dramaturgo, cenógrafo e intérprete dos solos O Triângulo Cor-de-Rosa, O Criado, Fantasmas, Santos e Pecadores, Teatro Noir, Sex Zombie – a vida de Verónica Lake, Hollywood, One Night Only – uma rádio-conferência, Um Marido Ideal, Pour Homme, Swingers, As Peças Amorosas e As Palavras São o Meu Negócio. Escreveu também as peças Império, 50 – Orlando, ouve, Todas as noites a mesma noite, Film Noir, Os Inconvenientes, CinemaScope e O Espelho do Narciso Gordo.  Encenou e cenografou Um Número, de Caryl Churchill, no Teatro da Trindade. Trabalhou como redactor publicitário e foi guionista para televisão, estando até nomeado para um Emmy de tv. É o criador do Queerquivo – um novo Arquivo LGBT Português, com edição online e em livro. É o argumentista e realizador da primeira websérie gay portuguesa, Barba Rija, que conta com diversas presenças em festivais estrangeiros e prémios. Ainda este ano estreou outra websérie feita durante o confinamento chamada: Desabafos. A revista Mini Internacional considerou-o um dos mais promissores criativos da sua geração.

26 de Abril: Diana Niepce

Este seminário irá abordar conceitos como “disabilty studies”, deficiência na sociedade, deficiência nas artes performativas, corpo político.

É urgente emergir um novo corpo que ultrapasse a visão néo-liberal do corpo performativo, perfeito ou glorioso, visão que se limita à funcionalidade e ao virtuosismo e que não reconhece a fragilidade que o tempo traz. Interessa-me perceber o corpo longe da hierarquia onde está incutido e dar-lhe voz fora do que é considerado norma, como um acto político na performance. Interessa-me questionar os paradigmas da norma disseminados socialmente e reformular o conceito de diversidade como uma nova normalidade.

Irei abordar estas questões a partir da minha experiência enquanto artista e espectadora.

Diana Niepce é bailarina, coreógrafa e escritora. Formou-se na Escola Superior de Dança, fez Erasmus na Teatterikorkeakoulun, fez uma pós-graduação em Arte e Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, completou a formação CPGAE do ForumDança e é também professora habilitada de hatha-yoga. É criadora das peças “Raw a nude” (2019), “12 979 Dias” (2019), “Dueto” (2020). Enquanto bailarina e performer colaborou com artistas nacionais e internacionais. Desenvolve projectos regularmente com os artistas Mariana Tengner Barros, Rui Catalão e a companhia polaca Teatr21. Publicou um artigo no livro “Anne Teresa de Keersmaeker em Lisboa” (ed. Egeac/INCM), o conto infantil “Bayadère” (ed. CNB) e o poema “2014” na revista Flanzine. Foi membro do júri do prémio Acesso Cultura 2018 e do Festival – Inshadow 2018.

10 de Maio: Ana Pérez-Quiroga

A partir das minhas preocupações e da forma como as expresso artisticamente, proponho pensar em conjunto:

¿De qué casa eres? (De que casa és?)

Através desta pergunta, que engloba diversos sentidos, destaco as problemáticas da identidade e saliento três vertentes: 1) a questão da pertença – família, grupo, Estado / País / Nação; 2) as questões culturais – o eterno estrangeiro no país de acolhimento – migrantes, refugiados; 3) as questões – sexo / género dentro da comunidade LGBTQI+.

Ana Pérez-Quiroga: Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Mestre em Artes Visuais pela Universidade de Évora e Doutorada em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Expõe desde 1999, com destaque para as participações institucionais em: Falconer Gallery-Grinnell, Iowa, EUA; World Art Museum, Pequin, China; Villa Savoye-Le Corbusier, França. Das exposições individuais destaque para: MAAT, Museu do Chiado, Museu de Arte Popular e Convento de Cristo. Foi distinguida em 2015 com o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores – SPA, para a melhor exposição de Artes Plásticas.

14 de Junho: Marco Paiva com Joana Honório e Rui Fonseca

É agradável querer saber dos outros. Não é menos agradável, querermos saber de nós. É neste dialogo que coincidimos com a felicidade.

A preocupação colectiva em torno do conceito de felicidade e realização, pode colaborar, em grande medida, para a possibilidade de ultrapassar barreiras sociais, económicas, culturais e artísticas. Construir espaços colectivos que respondam a uma diversidade de necessidades e expectativas, alimenta um tecido social heterogéneo, que vive e pratica uma cidadania desejavelmente plena e implicada, e que se traduz, em grande medida, no sentimento de bem-estar.

  • E então, quem somos nós, que estamos aqui reunidos?
  • Que relação temos com a arte, a cultura, a criação artística, a cidadania ou a felicidade?
  • Em que medida pensamos o conceito de felicidade?
  • Onde está a felicidade na decisão politica?
  • Qual a relação que o conceito de diversidade tem com o espaço cultural e artístico?
  • O que queremos ser uns para os outros daqui para a frente?

Marco Paiva: Licenciado em Teatro ‐ Formação de Atores pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 2008, concluiu o Curso Europeu de Aperfeiçoamento Teatral É́cole Des Mêtres, dirigido pelo encenador brasileiro Enrique Diaz (CIA dos Atores). Tem uma pós-graduação em Empreendedorismo e Estudos da Cultura – Ramo de Gestão Cultural, no ISCTE.  Tem vindo a colaborar como actor e encenador com diversas estruturas, nomeadamente: Teatro Nacional D. Maria II, Centro Dramático Nacional de Espanha, mala voadora, Comuna Teatro de Pesquisa, O Bando, L.A.M.A – Laboratório de Artes e Media do Algarve, Culturgest, Casa da Música, Teatro Helena Sá e Costa, projecto Crinabel Teatro, entre outros. Trabalhou com os encenadores João Ricardo, João Mota, Emmanuel Demarcy‐ Mota, Enrique Diaz, Álvaro Correia, Jorge Andrade, Alex Cassal, Paula Diogo, Crista Alfaiate, Carla Maciel, André Murraças. Em cinema trabalhou entre outros com Miguel Martí, Joaquim Leitão, João Pedro Rodrigues, Dinis Costa, Edgar Pêra, José Fonseca e Costa e Tiago Guedes. Colabora com o projeto Crinabel Teatro desde 2000, assumindo as responsabilidades da coordenação artística em 2008. Em 2018, fundou a TERRA AMARELA – Plataforma de Criação Artística Inclusiva, que desenvolve o seu trabalho em torno da cultura acessível e das práticas artísticas inclusivas.

Joana Honório: Actriz desde 2012, ano em que integrou o projecto Crinabel Teatro, onde trabalhou com Marco Paiva e Albano Jerónimo. Colabora com a Terra Amarela desde 2019 e integrou o elenco do espectáculo “ALDEBARÔ.

Rui Fonseca: Actor desde 1995, ano em que integrou o projecto Crinabel Teatro, onde trabalhou com Francisco Brás, Carlos Martinez, Paula Sabino, Marco Paiva e Albano Jerónimo. Colabora com a Terra Amarela desde 2019 e integrou o elenco dos espectáculos “Fala aos Bichos” e “Caligula Morreu, eu não”.