Muitas pessoas pensam que a necessidade de comunicação com pessoas Surdas resolve-se através do português escrito. Pode ser, em casos pontuais e com algumas pessoas. No entanto, é necessário compreendermos que o português é uma segunda língua para as pessoas Surdas, que nem sempre a dominam. A sua língua-mãe é a Língua Gestual Portuguesa, língua reconhecida pela Constituição da República Portuguesa.

Compreendendo este ponto, torna-se urgente olharmos para os diversos concursos, geridos por entidades públicas e privadas, na área da cultura: são normalmente apresentados com uma linguagem e estrutura complexas, tanto para pessoas S/surdas como ouvintes. No caso das pessoas Surdas, estas são obrigadas a recorrer a intérpretes para poder decifrar a informação. Além disso, a própria submissão dos diferentes elementos que compõem as candidaturas só pode ser feita por escrito, não reconhecendo a existência de diferentes línguas e formas de comunicação entre os cidadãos deste país. Quão justos são estes concursos para profissionais da cultura que são Surdos?

Nestes últimos dias, duas entidades portuguesas abriram concursos procurando torná-los mais acessíveis a candidatos Surdos: a ModaLisboa (Workstation New Media) e Academia Portuguesa de Cinema (Pitch me! 2023). A Acesso Cultura trabalhou com estas duas entidades e as melhorias que em conjunto pudemos criar foram as seguintes:

  • Elaboração do texto do regulamento em linguagem clara, tornando-o mais acessível para todas as pessoas interessadas em concorrer;
  • Apresentação dos pontos essenciais do regulamento em Língua Gestual Portuguesa;
  • Possibilidade de apresentar candidaturas em Língua Gestual Portuguesa.

São três primeiros passos, que esperamos que possam vir a influenciar outras entidades gestoras de concursos.

Estaremos a dar resposta a todas as necessidades? Não, já o sabemos e, como sempre, trabalharemos (pessoas Surdas e ouvintes, associadas e não associadas da Acesso Cultura) para uma continuada melhoria destes processos, de forma a torná-los cada vez mais acessíveis, inclusivos e equitativos.

O nosso agradecimento à ModaLisboa e à Academia Portuguesa de Cinema por todo o interesse, abertura e colaboração.

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