Adiado

Continuamos a nossa reflexão sobre questões relacionadas com a diversidade e inclusão, convidando colegas com diferentes experiências e pontos de vista a partilhar o seu pensamento e prática. Novas e diferentes abordagens às questões da dissonância cognitiva, do desconforto, do tokenismo, do racismo, do colonialismo e a forma como afectam as nossas práticas no sector cultural e a nossa relação com a sociedade.

Público-alvo

Directores e gestores de espaços e projectos culturais, artistas, profissionais da comunicação e da mediação / serviços educativos.

Programa

6 de Maio: Matilde Seabra

A falsa invisibilidade de um jardim

O PING! Programa de Incursão à Galeria – projeto educativo da Galeria Municipal do Porto está quase a celebrar 4 anos de existência. Este é o momento para festejar o que tem vindo a ser feito num ciclo de seminários sobre Diversidade e Inclusão. A apresentação irá partilhar dois programas – Elefante no Palácio de Cristal, que contou com uma curadoria externa em 2021- e Memória de Elefante. Ambos pensados a partir do lugar onde se encontra a Galeria carregado, embora invisivelmente, pelo legado da Primeira Exposição Colonial Portuguesa que teve lugar nos Jardins do Palácio de Cristal, em 1934. O ex-libris era uma grande escultura de um elefante, exposta no topo do Palácio de Cristal, na época intitulado Palácio das Colónias. Homenageando o elefante enquanto animal simbólico com uma grande capacidade para reter e transmitir conhecimento, o programa educativo revisita a cultura material, arquivos e reminiscências coloniais associados à cidade do Porto através de workshops, percursos e conversas, com artistas, ativistas e educadores com o objetivo de discutir as implicações e as marcas do colonialismo.

Matilde Seabra é arquitecta, tem vindo a programar na mediação em arte contemporânea e arquitectura para instituições públicas e privadas, com realidades geográficas e comunidades diferentes. Em co-autoria com artistas e pensadores, tem desenhado projectos culturais que se constrõem colectivamente a partir das especificidades de cada lugar. Matilde acredita que a erudição está na intersecção da academia e do saber popular.  A empresa Talkie-Walkie, fundada em 2012 com Ana Vieira, tem contribuído para o reconhecimento do território e da consciencialização de quem o habita. Actualmente, coordena o PING! Programa de Incursão à Galeria e os Programas Públicos da Galeria Municipal do Porto (Departamento de Arte Contemporânea da Câmara Municipal do Porto), que convida diferentes públicos a pensar ecologicamente com base na natureza, contribuindo para a visibilidade de narrativas mais inclusivas da história da humanidade e na divulgação de jovens artistas e criadores na cidade e outros territórios.

13 de Maio: Maria Gil

Reflectir sobre o anti-ciganismo

Quais as raízes do anti-ciganismo em Portugal? Como é que a discriminação contra pessoas ciganas se manifesta hoje? Qual a relação que uma criança ou jovem cigana tem com a cultura e com espaços culturais formais? Que trabalhos culturais e artísticos têm sido desenvolvidos em Portugal? Quem faz de quem e quem fala por quem?

Maria Gil é actriz, feminista e activista cigana. Tem trabalhado na área do teatro comunitário e teatro do oprimido. O seu activismo realiza-se sobretudo através do teatro. É membro da associação Saber Compreender e actriz do colectivo PELE. Em Julho 2013, foi uma das oradoras do primeiro Encontro Intercultural Rumo à Inclusão, promovido pelo projeto O Rumo Certo, na Biblioteca Municipal de Tomar, onde abordou a temática dos Desafios da inclusão. Em 2016, foi uma das protagonistas da campanha nacional contra a discriminação do povo cigano da Rede Europeia Contra a Pobreza. Em 2017, promoveu o movimento de “mulheres e ciganas” que “existem e resistem”, que se tornou num dos lemas do movimento feminista cigano. Em Abril de 2018, participou como oradora no Festival Político. Maria Gil associou-se ao projecto “Singular do Plural: 20 – profissões, pessoas, ciganos e ciganos”, promovido pela EAPN Portugal que, em 2019, apareceu numa exposição no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. Em Abril de 2019, foi oradora no curso de jornalismo digital ministrado na Universidade Lusófona do Porto sobre o tema da representação das comunidades ciganas na esfera pública. Entre os seus mais recentes trabalhos está a série da RTP1 “Braga” (onde participou como actriz, mas foi também consultora e fez o casting de actores ciganos) e “Homo Sacer”, uma co-produção O Bestiário e Teatro Nacional D. Maria II.

20 de Maio: Sarah Nagaty

Como NÃO se tornar um salvador? A caminho da verdadeira inclusão e equidade

Este workshop irá abordar a linha ténue entre inclusão e “tokenismo” na esfera cultural. O tokenismo é melhor definido como um esforço simbólico que dá a aparência de igualdade e inclusão num contexto específico. No entanto, em muitos casos, as pessoas envolvidas no trabalho cultural e social não estão conscientes da sua prática de tokenismo. Além disso, também acontece frequentemente que os sujeitos “tokenizados”, sem se aperceberem, tornam-se eles próprios os primeiros a abraçar esta posição de ser um token e a reproduzi-la. Embora o objectivo da inclusão e da equidade na sociedade seja em si uma causa válida, certas formas de implementação podem promover relações de poder desequilibradas em vez de as desafiar.

Através da análise de diferentes casos de estudo, vamos conversar sobre como os agentes culturais de diferentes origens minoritárias podem tornar-se tokens e como podemos (des)tokenizar o conceito de inclusão nas esferas cultural e social. O que separa a verdadeira inclusão do tokenismo é a longa prática de “salvar” os outros. E embora ser um salvador seja comumente associado à “branquitude”, os casos de estudo, trazidos tanto do Egipto como de Portugal, demonstrarão como a necessidade de “salvar” emerge dos privilégios de classe e género, bem como de etnicidade. Através deste seminário, procuraremos sugerir formas de trabalhar em conjunto, envolvendo diferentes comunidades, sem cair na armadilha de “salvá-las” ou “tokenizá-las”.

Nota: Sarah Nagaty fala e entende português. Por uma questão de fluidez, optará por apresentar o seminário em inglês. As pessoas inscritas poderão comunicar com ela em português.

Sarah Nagaty encontrou a inspiração para fazer este seminário enquanto lutava para encontrar o seu próprio lugar no mundo, apesar de todo o discurso inclusivo, diverso e de “oportunidades iguais” que existe por aí. Nagaty é doutorada em Estudos Culturais pela Universidade de Copenhaga e pela Universidade Católica Portuguesa. O seu livro The Collective Dream: Egyptians Longing for a best life, publicado pela Palgrave Macmillan (Outono de 2023), aborda o aspecto cultural da mudança social e da transformação revolucionária. Também trabalhou como investigadora na Biblioteca de Alexandria e como Assistente de Protecção no ACNUR (Alexandria).

27 de Maio: Joyce Souza

Reconhecer para transformar. Dissonância, negação e paralisia como estratégias coloniais

A busca por coerência entre ideologias, discursos e acções é um desafio. Mudar comportamentos e transformar atitudes são processos individuais, mas que têm consequências pungentes na sociedade. O cenário actual é catastrófico: o colonialismo, o racismo, a imposição de uma cisheteronormatividade, entre outras violências, têm pautado as nossas experiências. Mesmo diante de tanta informação disponível, é visível que não há uma lucidez sobre as dimensões das consequências dessas disparidades. Mais do que afectar os indivíduos, esta forma de estar no mundo anuncia o seu próprio colapso. E porque é que, mesmo com tantas informações, se ignora o que se passa? O que fomenta essa resistência em transformar? Onde se criam as “verdades absolutas”? Como é possível tentar dissolvê-las? Como a arte e a educação podem contribuir nesse processo? Como eu posso desconstruir-me? Neste encontro desejo apresentar essas questões e reflectir em colectivo sobre como corromper o projecto colonial que segue em andamento.

Joyce Souza é natural do Guarujá – SP/Brasil e vive em Lisboa. É mestre em Artes Performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema-IPL). Licenciada em educação artística (Faculdade Paulista de Artes) e teatro (Universidade de São Paulo). Artista e pesquisadora Transdisciplinar, actua entre Brasil e Portugal como actriz, performer, dramaturga e docente. Actualmente, integra o elenco do espetáculo “descobri-quê?” da Estrutura em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II em digressão na Odisséia Nacional. Ministra, ainda, formações acerca de uma educação anti-racista e decolonial.