Prémio
Wool | Covilhã Arte Urbana, pelo prolecto “WOOL + | Arte Urbana mais acessível”

O projeto WOOL ocupa as ruas da Covilhã há mais de uma década. Contudo, com o WOOL + a ocupação a ocupação incluiu mais pessoas, previamente e frequentemente excluídas destes acontecimentos, ao tornar todo o roteiro e programação acessível do ponto de vista físico, social e intelectual para pessoas com deficiência (motora, visual, intelectual), Surdas ou com outras necessidades específicas – por exemplo, pessoas daltónicas. Este festival de Arte Urbana é uma experiência única e notável no interior do país, tantas vezes esquecido, como são também demasiadas vezes esquecidas pessoas com deficiência ou necessidades específicas. O WOOL+ traz as artes visuais para o espaço público de forma acessível, sensível e dialogante, sendo um projeto que verdadeiramente convoca a transformação das pessoas e dos territórios.

Prémio
Estrutura Associação Cultural, pelo projecto “DESCOBRI-QUÊ?”

Desde pequenos que nos contam apenas uma parte da História com H grande, quando nos falam sobre os “descobrimentos”. Falam-nos desta época cheia de Heróis e grandes feitos, mas não nos contam sobre os territórios que usurpámos nem sobre como impusemos costumes a povos já com identidades próprias. Descolonizar o ensino da História continua a ser essencial.

O projecto descobri-quê? destacou-se ao olhar do júri devido à originalidade da aplicação de um programa ainda tão pertinente junto de um público mais jovem. O projecto concretizou-se num espectáculo sobre o tema da colonização, bem como em diversas conversas/palestras sobre o tema junto de alunos, docentes e progenitores. A natural curiosidade e estranheza de encarar um tema antigo com um novo olhar, verificou-se nas ações propostas por este projecto, o que demonstra a pertinência do mesmo.

Os debates e espectáculos foram apresentados em diversos locais por todo o país, incluindo cidades com baixo índice populacional. Mais do que nunca, é urgente incluir localidades onde a oferta cultural não é tão vasta como nas grandes metrópoles. Os debates sociais devem ser um direito de todos para todos, só assim é que poderemos mudar o rumo da História futura.

O júri deliberou a atribuição deste prémio devido à pertinência que o tema apresenta, a sua vertente educativa, bem como o intuito de futuro que o projecto ambiciona.

Prémio
Teatro Nacional D. Maria II, pelo projecto “Odisseia Nacional”

Este é um projeto que se destaca pelos seus objetivos, alcance, participação e inclusão. A Odisseia Nacional percorreu o país, envolveu mais de 50.000 pessoas e esteve em 90 municípios, levando uma oferta cultural construída com os territórios, fomentando a criação artística diversa, participada e com forte ligação às realidades culturais locais. A Odisseia Nacional foi ao encontro do país, dialogou e democratizou a cultura e ao fazê-lo não esqueceu a acessibilidade, incluindo das pessoas com necessidades específicas (com recursos de audiodescrição, interpretação em Língua Gestual Portuguesa, legendagem, sessões descontraídas, folhas de sala em braille) não só em espetáculos, mas também em projetos participativos, oficinas, formação e conferências. O Odisseia Nacional aproxima quem faz e quem assiste, é heterogénea, inclusiva e dialogante e dá destaque a quem nem sempre tem essa oportunidade, sendo por isso um projeto que desconstrói preconceitos e constrói proximidades.

Prémio
Batalha Centro de Cinema – Ágora – Cultura e Desporto, E.M., pelo projecto “Vizinhos: Batalhawood”

O Cinema sempre teve o poder de agregar pessoas, tanto famílias como perfeitos estranhos frente a uma tela e de rasgar um novo mundo para os espectadores. O Batalha Centro de Cinema – Ágora – Cultura e Desporto, E.M. propõe com o projecto Vizinhos: Batalhawood uma partilha cultural. Destaca-se pela integração ativa da comunidade imigrante do Bangladesh do Porto no tecido cultural do cinema.

Em colaboração com a associação “Comunidade do Bangladesh do Porto”, foram realizadas visitas regulares a estabelecimentos geridos pelos seus membros e criaram-se relações com diferentes pessoas, que resultaram no levantamento dos gostos cinematográficos destes habitantes da cidade. Posteriormente, houve sessões de cinema com os filmes escolhidos pela comunidade, com o duplo intuito de promover ativamente a sua inclusão no espaço cultural e de partilhar as cinematografias do Bangladesh com o público geral.

O Centro de Cinema Batalha quer que a comunidade do Bangladesh do Porto se sinta bem-vinda no seu espaço e na cidade do Porto, pelo que propõe a continuidade do projecto, assente no diálogo aberto.

Ao premiar este projecto, o júri reconhece a extrema pertinência desta iniciativa, que integra no tecido cultural da cidade, muitas vezes fechado e exclusivo, uma comunidade com uma realidade social dura.

Menção Honrosa
Teatro José Lúcio da Silva, pelo projecto “Um palco para todas as pessoas”

Se tivéssemos de descrever o Teatro José Lúcio da Silva com apenas uma palavra, essa palavra seria “relação”.

A sua missão é “Dotar a cidade de Leiria de um espaço de lazer, saber, conhecimento, cultura e entretenimento, fomentando uma relação entre o público e o Teatro”. Este teatro tem investido, em particular, na relação com pessoas com deficiência e Surdas. Os espectáculos com interpretação em Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição aumentaram exponencialmente. As associações que trabalham junto destas comunidades, nomeadamente ACAPO e Associação de Surdos da Alta Estremadura, ajudam a decidir qual a oferta de programação mais interessante, que desperte curiosidade e vontade de enfrentar os obstáculos que possam existir quando decidem vir até ao Teatro – sejam eles físicos, emocionais ou psicológicos. O número de pessoas que usufruem desses recursos também cresceu significativamente, e tem também influenciado a frequentação em cidades próximas, quando existem recursos de acessibilidade (Estávamos em Pombal e ouvimos os espectadores cegos a despedirem-se no final do espectáculo dizendo “Até amanhã, em Leiria!”). 

Este teatro trabalha na criação de relações, não apenas através da programação, mas também através de uma conversa, de uma pausa para café, de vídeos-convite com a participação dos artistas dirigidos à comunidade S/surda. O Teatro José Lúcio da Silva, pelo seu trabalho e compromisso, faz jus à sua missão e é distinguido pelo júri com esta Menção Honrosa.

Menção Honrosa
Orquestra de Câmara Portuguesa, pelo projecto “Orquestra dos Navegadores”

Promover a igualdade de oportunidades em contextos socio-económicos menos favorecidos é um passo importante para o desenvolvimento das crianças e dos jovens. Nestes contextos, o acesso a uma formação artística fica, na maioria das vezes, muito comprometido.

O projecto “Orquestra de Navegadores”, da Orquestra de Câmara Portuguesa, conjuga o acesso à formação musical – nomeadamente, através da gratuitidade da participação das crianças -, e também disponibiliza o transporte necessário para que possam estar presentes em todas as atividades, numa resposta a uma necessidade verificada pela Câmara Municipal de Oeiras. Aqui, crianças que pertencem ao Bairro dos Navegadores e ao Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro têm a oportunidade de ter uma formação musical, que proporciona o saber-estar, o saber-escutar, a autoestima e o espírito de equipa, e onde se desenvolvem a criatividade, a resiliência, a concentração, naquele que é um contexto favorável ao desenvolvimento humano, proporcionado pelos 13 professores que fazem parte do projeto.

Atribuímos assim uma Menção Honrosa à Orquestra dos Navegadores, pelo trabalho que tem vindo a desenvolver desde 2019.

Menção Honrosa
Fundação Bienal de Arte de Cerveira, F. P. (FBAC), pelo projecto Oficinas “AMAM – Rede de Apoio a Migrantes no Alto Minho”

 A Fundação Bienal de Arte de Cerveira desenvolveu este projeto como parte da sua missão de proporcionar experiências inclusivas, acessíveis e participadas em espaços de encontro e diálogo. As Oficinas “AMAM – Rede de Apoio a Migrantes no Alto Minho” (orientadas pelos artistas Henrique do Vale, Acácio de Carvalho e Paulo Barros) tiveram esta missão como pano de fundo e foram ainda mais além. Através da criação artística, convocaram pessoas e culturas, cidadãos migrantes e não migrantes, para partilhar sensibilidades artísticas, mas também histórias de vida feitas em lugares próximos e distantes. A participação foi gratuita e as sessões contaram com o apoio de tradução simultânea nas línguas de português e inglês e com o acompanhamento da coordenadora do Serviço para a Inclusão e Diversidade Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, tornando o projeto verdadeiramente inclusivo e acessível. Em tempos de crescentes discursos e atos de intolerância e exclusão, projetos como as Oficinas AMAM são uma resposta que aproxima as pessoas, integra, derruba barreiras e desfaz preconceitos.

O júri:
Ana Sofia Nunes, artista-mediadora
Inês Cóias, artista e performer
Sara Cura, arqueóloga