O texto
Em dezembro de 1953, na Borralheira (Teixoso), três meninas que brincavam no campo descobriram um recipiente cheio de moedas e joias de ouro. A descoberta causou alvoroço na aldeia e chamou a atenção das autoridades, que apreenderam parte das peças. Foram analisadas pelo Professor Manuel Heleno, um especialista de Lisboa, que verificou serem da época romana.
Trata-se de um dos tesouros da arqueologia mais importantes de Portugal e encontra-se exposto no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa. É composto por um conjunto de 40 moedas de ouro que datam dos séculos I a III, um colar, um par de brincos e vários anéis de ouro e fragmentos de colheres de prata.
Ao longo da História, o entesouramento – esconder bens preciosos em lugares seguros – foi bastante comum, especialmente como medida de precaução em épocas de instabilidade e insegurança. Era o caso do fim do Império Romano.
Não sabemos o que, há 18 séculos, levou o rico habitante deste lugar a enterrar os seus bens mais preciosos. Mas podemos imaginar que o fez com a esperança de, num dia que nunca chegou, regressar para os recuperar.
Justificação do Júri
“O Tesouro da Borralheira” é o texto principal de um painel da exposição permanente do Museu da Covilhã.
Está escrito numa linguagem simples, com palavras que a maioria das pessoas conhece. Apenas aparece uma palavra menos conhecida (entesouramento), mas não é um obstáculo à compreensão, porque é logo explicada. As frases são curtas, e as informações aparecem numa sequência lógica. Assim, a leitura é fluída, e o mais importante compreende-se à primeira. No último parágrafo, o uso da primeira pessoa inclui quem lê.
Ao começar por nos contar como o tesouro foi descoberto, prende-nos a atenção. Nos seus 4 curtos parágrafos, vamos ler o essencial para contextualizar os restantes elementos do painel. No fim, porque nos desafia a imaginar o que terá levado alguém do século III a esconder os seus objetos mais preciosos, envolve-nos ainda mais na história. A conclusão é contemporânea: depois de um percurso cronológico, o texto fecha com um olhar do tempo presente. Servindo-se da história deste conjunto enquanto achado, cria condições para se falar sobre História.
Ficamos com vontade de visitar um museu que fala assim, de modo tão cativante, das peças que são mostradas noutro lugar.
O Júri: Ana Lúcia Mena, Margarida Ferra, Thursday Edral