Prémio Acesso Cultura

Associação Cultural Figura Nacional, pelo projecto “Cinema Insuflável”

Este projeto distingue-se pela forma criativa e integrada com que responde a barreiras de acesso à participação cultural, em particular o isolamento geográfico e a falta de equipamentos culturais em determinadas regiões.

Esta é uma sala de cinema insuflável, que apresenta cinema de qualidade, para crianças, em territórios onde o cinema não chega. É uma verdadeira sala de cinema, que demora cerca de 90 minutos a ser montada, tem 30 lugares, incluindo dois para pessoas com mobilizada reduzida.

As sessões são pensadas pela equipa dinamizadora – um ator e uma socióloga – com os parceiros locais, desenhando o programa de acordo com o que é relevante para cada território e explorando temas como a equidade, o direito à infância, o ambiente, entre outros.

O júri deliberou atribuir ao projeto Cinema Insuflável, promovido pela Associação Cultural Figura Nacional, o Prémio Acesso Cultura

Prémio Acesso Cultura

CCER Mais, CRL, pelo projecto 5ª Punkada

Os 5ª Punkada são uma banda que tem sonhos comuns a muitas outras bandas: gravar discos, fazer digressões e mostrar as suas criações a todo o tipo de públicos. Mas se acrescentarmos a esta introdução o facto de esta banda ser formada e liderada por pessoas com deficiência intelectual e paralisia cerebral, reconhecemos rapidamente o quanto são valiosos e essenciais, por mostrarem também o seu alto valor para a representação das pessoas com deficiência em lugares de liderança e participação artística. 5ª Punkada é um projecto singular fundado por Fausto Sousa há quase três décadas e ao qual se foram juntando Fátima Pinto, Jorge Maleiro e Miguel Duarte.

A estes quatro músicos, juntou-se recentemente a Omnichord, na pequena sala da Quinta da Conraria, sob orientação do produtor Rui Gaspar (dos First Breath After Coma), mediação do musico-terapeuta Paulo Jacob, também com colaborações de Surma e de Victor Torpedo, e aí foi gravado o álbum “Somos Punks ou não?”, que se transformou num espetáculo e saiu em digressão.

Os 5ª Punkada mostram-nos que mais do que “integração”, é possível a verdadeira participação social e artística, e que através da música também se iniciam revoluções. Ao mesmo tempo, não devemos ignorar, porque todos temos responsabilidades, o facto de alguns espectáculos terem sido cancelados por falta de condições de acessibilidade dos equipamentos culturais.

Ao distinguir este projecto, o júri visa o reconhecimento público de todas as entidades envolvidas no mesmo, enquanto exemplo de integração social, intelectual e física.

Prémio Acesso Cultura
LUCA  – Teatro Luís de Camões

O LUCA – Teatro Luís de Camões reabriu em 2018 com a missão de programar esta peculiar sala de espectáculos de bairro, exclusivamente para crianças e jovens. Conscientes dos desafios inerentes à garantia de uma acessibilidade plena, desde o primeiro momento procuraram diagnóstico e orientação especializada externos, que pautam as melhorias que têm introduzido gradualmente, ainda qie com algumas lacunas a serem preenchidas – o exemplo do Foyer localizado no primeiro andar do prédio, que tem acesso apenas por escadas.

É notável constatar a visão integrada que criaram, que se inicia com a nomeação de um elemento da equipa responsável pela articulação das diversas dimensões deste trabalho, a nível de programação e de públicos, garantindo a salvaguarda dos instrumentos de acessibilidade física, intelectual e social. E que continua com a formação regular da equipa nas áreas da acessibilidade e inclusão.

Todos estes, aspectos se reflectem na programação, que integra propostas artísticas inclusivas nos projectos pensados para sessões presenciais e online, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa, audiodescrição, sessões descontraídas, conversas com o público, projectos de proximidade e de continuidade nas escolas. São igualmente notáveis as melhorias continuadas no que diz respeito à comunicação, online e offline, orientada por uma linguagem clara, um design simples, e toda ela acessível. A sua actuação não se reduz à programação e comunicação, o preçário também procura não ser uma barreira, mas garantia de um acesso democrático às artes e à cultura.

Pelas razões mencionadas acima, o júri considera o LUCA – Teatro Luís de Camões como uma referência de boas prática, acessibilidade e inclusão para o sector cultural português.

Esta candidatura não teve a apreciação do membro do júri Ana Braga, por esta fazer parte do corpo profissional da EGEAC, sendo o LUCA um equipamento cultural gerido por esta mesma empresa.

Menções honrosas

Terra Amarela, pelo espectáculo “Zoo Story”

Desde a sua criação, a associação Terra Amarela tem vindo a promover o acesso à participação cultural de pessoas com deficiência e S/surdas de forma consistente e transversal. Nos seus projetos, a acessibilidade é entendida não apenas de forma integrada, mas como elemento indissociável do objeto artístico, desde o momento da criação artística.

O projeto candidato, “Zoo Story”, é o primeiro espetáculo profissional integralmente em Língua Gestual Portuguesa, interpretado por dois artistas Surdos, o Tony Weaver e a Marta Sales. Na sua apresentação, todas as sessões contam com legendagem, audiodescrição, narração, e folha de sala em braille, que naturalmente é de responsabilidade do promotor do espetáculo.

A candidatura mereceu este ano a classificação mais elevada. A associação Terra Amarela recebeu o Prémio Acesso Cultura em 2022, precisamente por se diferenciar nas boas práticas evidenciadas na promoção consistente e sustentável do acesso à cultura. Por esta razão, o júri entendeu que o valor desta candidatura se insere neste percurso consistente e sustentável e, por isso, decidiu atribuir uma Menção Honrosa ao projeto “Zoo Story”.

A música portuguesa a gostar dela próprio, pelo projecto “A música cigana a gostar dela própria”

O projecto “A música cigana a gostar dela própria” nasce em 2019 como o objectivo claro de usar a música como ferramenta de destruição de inúmeros preconceitos e pré-conceitos que envolvem a comunidade cigana em Portugal. Entre mapeamento, encontros e registos sonoros de uma tradição oral enraizada numa cultura ancestral, surge naturalmente a partilha, a valorização, uma visibilidade, a desmistificação de ideias, a integração e um acesso que se deseja multilateral.

Os três anos deste projecto, que percorreu várias regiões do nosso país, resultaram, para além da difusão da música cigana por rádios e imprensa, num documentário realizado por Tiago Pereira, que estreou no Festival Política 2022. Desde então, tem prosseguido viagem por vários liceus e escolas secundárias, enquanto instrumento de trabalho comunitário e intervenção junto de crianças e jovens, afirmando o poder de transformação da música, da arte.

A menção honrosa atribuída, reconhece a pertinência e foco de trabalho e a consequente valorização e visibilidade da comunidade cigana que tão escassas vezes tem possibilidade de afirmar a sua voz.

Associação Bagos D’Ouro plo projecto “FazParte! – Programas de Expressão Artística para a Inclusão Social”

Este projeto assenta na convicção de que as práticas artísticas podem ser instrumentos de inclusão social, combate à pobreza e discriminação, promovendo o estímulo para a criatividade e a expressão individual.

Desenvolve-se na sub-região do Douro, em contextos com fragilidades económicas e em que as necessidades básicas nem sempre estão totalmente satisfeitas. Através de práticas artísticas inclusivas, colaborativas e co-construídas promove a inclusão de crianças e jovens de 6 concelhos desta região. As experiências artísticas partem de temas ancorados no território e relevantes para as suas comunidades.

Os conceitos de acesso à cultura, inclusão, direito e democracia cultural subjacentes ao projeto “Faz Parte!”, promovido pela Associação Bagos D’Ouro, levaram a que o júri deliberasse atribuir-lhe uma Menção Honrosa.

O júri
Ana Braga, museóloga
Lara Seixo Rodrigues, curadora e programadora cultural
Mickaella Dantas, bailarina

Lisboa, 21 de Junho de 2023