Regressar à página da Semana Acesso Cultura
22 de Junho, 16h-18h
Convento de Santa Clara, Portalegre
Entrada livre
Em colaboração com UMCOLETIVO
Crescer, crescendo é um encontro para crianças e adultos, artistas, educadores e espectadores, pensarem juntos territórios para a criação e fruição das artes performativas na infância. Quais as visões dos agentes culturais, das escolas e das instituições que trabalham para e com crianças quanto aos seus direitos culturais? As suas missões respondem às necessidades das crianças?
No âmbito deste encontro de um dia, organizado por UMCOLETIVO, propomos uma conversa sobre direitos culturais e infância. Contamos com a participação de Madalena Wallenstein (Fábrica das Artes), João Pedro Costa (Rádio Miúdos), Rui Cruz (Inspecção-Geral das Actividades Culturais), Sara Brighenti (Plano Nacional das Artes), assim como com todas as pessoas presentes. No final, Luís Marchão irá apresentar o resumo da conversa.
Moderação: Ricardo Guerreiro Campos (artista), com Cloé Menichetti e Beatriz Bailadeira
Poemas de Luís Marchão
(abertura)
Criança é Raiz, Cultura é Direito
Não me venham com silêncio em vez de história,
com grades no lugar da imaginação.
A criança não é vazio esperando ordem —
é universo em flor, pulsando criação.
Tem direito ao batuque, à tela, ao livro,
à lenda contada com fogo nos olhos.
Ao palco onde o medo dança com o riso,
à arte que cura os fantasmas do início.
Criança não é espera, é urgência dançando,
é pergunta que fura o manto do mundo.
Se não há cultura, há um tempo morrendo,
e um povo perdido num poço sem fundo.
Negar-lhe a pintura, a rima, a canção,
é trancar um planeta dentro da prisão.
Porque quando se cala a infância,
se assina a sentença da próxima geração.
Deixa brincar de ser rei, de ser fera,
de pintar o céu com tinta sincera.
Deixa subir no banquinho do mundo,
e gritar seu nome num eco profundo.
A cultura é um direito, não é mimo ou prêmio,
é raiz, é tijolo, é escudo, é veneno
contra a miséria de alma, contra a dor da opressão.
É nela que mora a verdadeira educação.
Então que se abram os muros, as praças, os livros!
Que o sonho da infância não seja furtivo.
Quem nega à criança o seu canto e seu chão,
mata em silêncio uma civilização.
(encerramento)
Cada criança, em qualquer lugar,
tem o direito de imaginar.
De ouvir histórias, ver um bailado,
sentir-se livre, ser respeitado.
Pode pintar com mil cores no chão,
ou inventar mundos com a sua mão.
Pode dançar, cantar bem alto,
e fazer da arte o seu asfalto.
Tem o direito de ler um livro,
de ir ao teatro, viver o incentivo.
De escutar música, tocar um tambor,
de escrever poemas com todo o ardor.
Tem o direito de ver cinema,
de criar arte sobre qualquer tema.
De ser artista, sonhador,
de expressar a dor, a alegria e o amor.
A cultura é ponte, é identidade,
é crescer com dignidade.
É tradição, é descoberta,
é uma porta que nunca se fecha.
Tem o direito à sua língua e sotaque,
seja do campo, da serra ou de qualquer destaque.
Tem o direito de celebrar
as raízes que a fazem brilhar.
Na escola, na rua, ou em casa também,
toda criança merece o que tem:
um espaço seguro para criar,
um tempo só seu para imaginar.
Tem o direito de ser ouvida,
de ver a cultura fazer parte da vida.
De ver nas histórias o seu reflexo,
de ver no palco o seu universo.
E não importa de onde vem,
nem a cor, nem o nome, nem a fé que tem.
A cultura é um direito de todos,
sem muros, sem cercas, sem modos.
Por isso, neste encontro dizemos bem alto:
não há futuro sem este asfalto.
O caminho da infância, para florescer,
precisa de arte, precisa de crescer.
Vamos cuidar, vamos garantir,
que todas as crianças possam sentir
que têm direito — e com razão —
à cultura no corpo, na alma, no coração.
Bionotas
Beatriz Bailadeira
Olá, o meu nome é Beatriz Bailadeira e tenho 9 anos. Estou a acabar o 4o ano na Escola de Monte Carvalho. A minha disciplina favorita é matemática, mas também gosto muito de português e adoro ler, até já fui a concursos de leitura e cheguei à final regional duas vezes. Para além de gostar de ouvir música, também gosto de dançar e por isso estou num estúdio de dança, no grupo de dança contemporânea. Também faço parte dos escuteiros, porque gosto de ajudar os outros e de andar no meio da natureza. Além disso, gosto muito de conversar e de brincar com os meus amigos.
Cloe Menichetti
Olá, sou a Cloe Salgueiro Rosa Grassi Meinchetti. Tenho 9 anos e nasci em Lisboa, a 20 de Agosto de 2015. Vivi em Lisboa até aos meus 5 anos e a partir daí passei a viver em Portalegre, frequentando a Escola Básica de Monte Carvalho. Eu gosto de praticar desporto, de cozinhar e de aprender a fazer coisas novas.
João Pedro Costa
Quando era pequeno, João Pedro Costa, queria ser músico. Ainda tocou bem, segundo contam. Mas a sua paixão pelo som e pela possibilidade da manipulação dos sons, levou-o à rádio. Tem um percurso por vários media e por várias experiências na produção de rádio e televisão, com trabalho realizado em muitos lugares do mundo. Começou pela Rádio Universidade Tejo, em 1985 e depois de uma passagem pela RFM e RGT-Rádio-Geste, partiu para a Ásia e por lá foi correspondente de vários media, tendo a sua base em Macau. Do Japão à Austrália, das Filipinas a Hong Kong, adquiriu experiência como produtor internacional e orgulha-se de ter trabalhado com equipas incríveis de várias partes do mundo e de culturas diferentes. Foi formador e agora é coordenador pedagógico da Rádio Miúdos.
Luis Carlos Costa Marchão
Tem15 anos e é natural de Curitiba, Brasil. Apaixonado por tecnologia, jogos e escrita de poemas. Com forte interesse em desenvolver sua habilidade na criação poética, alia sua sensibilidade artística ao seu entusiasmo por tecnologia e cultura digital.
Madalena Wallenstein
Posso contar que sempre fiz música, teatro e pinturas, desde muito pequena. Que o meu pai era encenador, ator e poeta e que, por isso, cresci sempre perto do teatro. A minha mãe era professora e educadora artística. Levava o teatro para todas as escolas por onde passou e os alunos lá para casa para lerem peças em conjunto. Também toquei flauta transversal e adorei fazer música para teatro, espetáculos para a infância. Dediquei muitos anos da minha vida para pensar com muitos miúdos em muitos contextos diferentes como é que o ensino da música poderia ser muito mais criativo e entusiasmante. Queria inventar um novo método. Trabalhei com crianças em hospitais, com a Fundação do Gil. Dei formação a professores, educadores e artistas. E desde há 17 anos que sou programadora, curadora e coordenadora da Fábrica das Artes do CCB, o programa para jovens públicos em artes performativas.
Ricardo Guerreiro Campos
Artista, das artes visuais à performance e ao teatro, bem como educador e investigador. Gosta de ser chamado de artista-educador porque acredita que é entre a arte e a educação que é mais feliz. Gosta de criar e estabelecer pontes entre objectos artísticos e pessoas, independentemente da sua idade e origem. Tem cultivado o prazer de criar com pessoas de um ano, mas também já coordenou um grupo de teatro com mulheres que tinham todas em comum o facto de serem avós. Chamavam-se “As Avózinhas”. É apaixonado pelo objecto livro e por histórias e já desenvolveu projetos com companhias de teatro, associações culturais, museus e escolas.
Rui Cruz
Estudou Direito. Actualmente, trabalha na Inspecção-Geral das Actividades Culturais, onde ajuda a realizar duas tarefas principais:
- Atribuir a classificação etária a todo o tipo de espetáculos, cinema e videojogos. Ou seja, a idade mínima que uma criança/jovem deve ter para poder assistir ou jogar aquele conteúdo;
- Registar as obras literárias ou artísticas. Por exemplo, livros, fotografias e músicas. Este registo serve para proteger as criações culturais de usos indevidos das mesmas e assim proteger a criação dos artistas. Estamos a falar, por exemplo, de uma música ser tocada numa festa sem a autorização de quem fez a música e dos músicos que a tocam. Outro exemplo é fazermos um download de um jogo da internet sem termos autorização de quem tem os direitos para vender o jogo ou fazermos fotocópias de livros dos nossos amigos.
Sara Brighenti
Adora museus, arte, ensinar e aprender com as pessoas! Já ajudou a criar um museu onde o dinheiro conta histórias e colaborou com muitos museus e teatros. O que mais gosta é de criar projetos para que as crianças e os jovens aprendam com as artes, possam imaginar e viver em liberdade. Quando era criança, aborrecia-se nas longas tardes de verão, mas hoje acha que foi por isso que lhe cresceu o desejo de ser artista. Aprendeu a tecer, desenhar, fazer esculturas, criar museus e contar histórias. Escreveu livros, criou jogos e ajudou a fazer um plano para que todas as crianças possam viver as culturas e as artes como se fossem uma grande aventura! Também ajudou a fazer um documento europeu que defende a cultura como um bem para todos.
