Ciclo de Seminários (online)
6 de Março: Mickaella Dantas
15 e 16 de Março: André Murraças (4 horas)
22 de Março: Paula Cardoso
27 de Março: Marco Paiva, Marta Sales, Tony Weaver
3 de Abril: Melissa Rodrigues
Horário: 18h-20h | Online, no Zoom
Consulte em baixo as sinopses e notas biográficas dos nossos convidados
O programador britânico Madani Younis disse na conferência do ISPA em Janeiro de 2020 que “Generosidade não é justiça. E inclusão não é equidade.” Percebemos com isto que, apesar das palavras diversidade e inclusão surgirem com bastante frequência no discurso das organizações culturais e dos seus profissionais, não temos plenamente noção do que significam, do que representam e do impacto que têm (ou deveriam ter) nos nosso trabalho e na nossa relação com a sociedade.
Como complemento ao curso Diversidade e Inclusão: perguntas para nós próprios, realizamos este ciclo de seminários, que nos permitirá conhecer melhor o percurso de cinco profissionais da cultura, não só como profissionais do sector, mas também como espectadores e visitantes.
Público-alvo
Directores e gestores de espaços e projectos culturais, artistas, profissionais da comunicação e da mediação / serviços educativos.
Ficha de inscrição
Preçário
Normal: €65
Estudante/ Desempregado: €55
Associado da Acesso Cultura: €45
Inscrições avulso nos seminários:
Normal / Estudante/ Desempregado: €12
Associado da Acesso Cultura: €8
Inscrição curso + ciclo de seminários
Normal: €85
Estudante/Desempregado: €70
Associado da Acesso Cultura: €65
Sinopses e notas biográficas
Mickaella Dantas
6 de Março
Neste seminário partilho o conhecimento adquirido enquanto bailarina e artista com deficiência nas artes performativas, considerando os territórios do Brasil, Portugal, Inglaterra e o circuito europeu. Interessa-me discutir a relação da dança contemporânea com a diversidade; reconhecer questões que emergem em processos de criação coreográfica, formação profissional e linguagens do movimento, a partir da experiência de um corpo fisico e cultural. Que práticas de acessibilidade podem ser pensadas para o palco, a sala de ensaio e as equipas de trabalho, quando se fala de um ecossistema artístico profissional? Proponho ainda a observação de alguns destes tópicos aplicados ao contexto do circo contemporâneo, e de projectos participativos de caráter inclusivo.
Mickaella Dantas é bailarina, brasileira naturalizada em Portugal. Desenvolve o seu trabalho entre a dança e o circo contemporâneo. Formou-se pelo Forum Dança (PEPCC 2013/2014 – Programa de Composição Coreográfica). Colaborou com companhias e coreógrafos internacionais, com destaque para a Candoco Dance Company, Dançando com a Diferença, Yasmeen Godder, Jérôme Bel, Jeanine Durning e Abigail Yager (Trisha Brown Dance Company). Ao longo da sua carreira teve formações com Eva Karczag, Charlie Morrissey, Jeremy Nelson, David Zambrano, Loïc Touzé, Marlene Monteiro Freitas, entre outros. Participa frequentemente em debates sobre dança contemporânea e artes inclusivas. Foi júri do Prémio Acesso Cultura (2014, 2021 e 2022). Foi consultora e integrou a equipa de apoio ao júri do Programa Partis and Arts for Change II, Fundação Calouste Gulbenkian. Colabora regularmente com o INAC – Instituto Nacional de Artes do Circo, Acesso Cultura, e com as coreógrafas Sara Anjo e Clara Andermatt.
André Murraças
15 e 16 de Março
Este seminário pretende realçar a importância da História não contada e o impacto de determinados objectos artísticos como portas de entrada e saída do universo Queer português. Partindo da minha experiência pessoal como dramaturgo e encenador no encontro com esses acontecimentos (nem sempre visíveis) e da fruição de algumas obras artísticas nos anos 90, tentaremos perceber que choques foram estes contra uma sociedade normativa e a sua relevância para o meu desenvolvimento artístico. Para reflectir sobre como nos relacionamos com a História Queer portuguesa escondida e a memória pessoal serão mencionados os filmes do Repórter X, o romance O Barão de Lavos (obra escandalosa de Abel Botelho, que data 1891 e onde se vê das primeiras representações homossexuais na literatura portuguesa), A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro (com um sinistro trio amoroso nunca antes visto), passando pela polémica da Literatura de Sodoma (que contou como intervenientes António Botto, Raul Leal e Judith Teixeira), o caso Valentim de Barros, terminando nos shows travesti do Finalmente, e sem esquecer a relação da SIDA com as artes em espectáculos como, por exemplo, Terminal Bar, A minha Noite com Gil, ou Angels in America, Miss Coco Peru e The Night Larry Kramer Kissed Me – trazidos ao público português em eventos como a Lisboa 94 e Monumental 95, onde deitámos um olhar às temáticas gay através do teatro. E que efeitos tiveram estes acontecimentos e objectos artísticos nas nossas vidas? Que nos dizem eles da sua época e como nos ajudaram a definirmo-nos como artistas e cidadãos?
André Murraças estudou Realização Plástica do Espectáculo na Escola Superior de Teatro e Cinema e acabou com distinção o Master of Arts in Scenography da Hogeschool voor de Kunsten, em Utrecht, na Holanda. Frequenta actualmente o mestrado de Ciências da Comunicação, da FCSH. Foi encenador, dramaturgo, cenógrafo e intérprete dos solos Sombras Andantes, Fronteiras, O Triângulo Cor-de-Rosa, O Criado, Fantasmas, Santos e Pecadores, Sex Zombie – a vida de Verónica Lake, Hollywood, One Night Only – uma rádio-conferência, Um Marido Ideal, Pour Homme, Swingers, As Peças Amorosas e As Palavras São o Meu Negócio. Escreveu também as peças Cabaret Repórter X, A Última Noite em que Dançámos Juntos, Império, 50 – Orlando, ouve, Todas as noites a mesma noite, Film Noir, Os Inconvenientes, CinemaScope e O Espelho do Narciso Gordo. Encenou e cenografou Um Número, de Caryl Churchill, no Teatro da Trindade. Foi cenógrafo de espectáculos de Miguel Loureiro e da revista do centenário do teatro Maria Vitória e Parque Mayer. Trabalhou como redactor publicitário e foi guionista para televisão, estando até nomeado para um Emmy de tv. É o criador do Queerquivo – um novo Arquivo LGBT Português, com edição online e em livro. É o argumentista e realizador da primeira websérie gay portuguesa, Barba Rija, que conta com diversas presenças em festivais estrangeiros e prémios. Durante o confinamento criou outra websérie: Desabafos. A revista Mini Internacional considerou-o um dos mais promissores criativos da sua geração.
Paula Cardoso
22 de Março
Nos primeiros anos de escolarização, uma pergunta torna-se incontornável: “O que queres ser quando fores grande?”. Mais do que a expressão de um sonho infantil, a escolha tende a traduzir a observação que fazemos da realidade. Não estranha, por isso, que a resposta venha entrelaçada a alguém que conhecemos e reconhecemos como igual. Isso explica que seja mais comum encontrar meninos, e não meninas, interessados em ser pilotos de corrida. Afinal, lembramo-nos de alguma mulher nessa posição? Da mesma forma, é natural que, num mundo dominado por referências brancas, crianças negras apenas aspirem ser o que outras pessoas negras à sua volta são. Então, muitas vezes, antes sequer de pensarem no que podem ser, confrontam-se com tudo aquilo que não podem ser. Foi assim comigo, continuou e continua a ser assim para as crianças que me procederam. Além de refletir sobre o impacto da falta de representatividade negra na infância, neste curso pretendo discutir propostas para transformar este contexto de impossibilidades em possibilidades.
Paula Cardoso é fundadora da comunidade digital “Afrolink”, que visibiliza profissionais africanos e afrodescendentes residentes em Portugal ou com ligações ao país, é também autora da série de livros infantis “Força Africana”, projetos desenvolvidos para promover uma maior representatividade negra na sociedade portuguesa. Com o mesmo propósito, faz parte da equipa do talk-show online “O Lado Negro da Força”, e apresentou a segunda temporada do “Black Excellence Talk Series”, formato transmitido na RTP África. É natural de Moçambique, licenciou-se em Relações Internacionais e trabalhou como jornalista durante 17 anos, percurso iniciado na revista Visão. Assina a crónica “Mutuacção” no Setenta e Quatro, projeto digital de jornalismo de investigação, é uma das cronistas do Gerador. Em Março de 2022 foi distinguida pela Euclid NetWork como uma das “Top 100 Women In Social Enterprise” da Europa.
Marco Paiva, Marta Sales e Tony Weaver
27 de Março
Partindo da experiência vivida na criação do espectáculo “Zoo Story”, da sua relação com a Cultura S/surda e da parceria estabelecida entre a Terra Amarela e o Teatro Nacional D. Maria II no decorrer do ano de 2022, provocamos uma conversa que explore uma ideia de futuro próximo, tentando reconhecer e discutir as diversas formas de entender o acto de programação cultural, as consequências desse mesmo acto na transformação do público e a urgência de redesenhar a formação artística, de modo a torná-la um espaço mais plural e aberto à diversidade. Para isso propomos uma conversa em torno de 4 questões:
- Pode uma Língua e uma Cultura mudar a forma como percepcionamos e compreendemos uma linguagem artística?
- Como podemos efectivar um desejo de programação mais diversa e acessível, articulando de forma justa a criação e a mediação?
- Será que a prática cultural e artística são verdadeiramente impulsionadoras de um outro olhar sobre o que entendemos como tecido colectivo?
- O que há a construir na escola artística de hoje?
Ainda vamos a tempo de Mudar o Mundo?
Marco Paiva é Director Artístico da Terra Amarela. Licenciou-se em Teatro ‐ Formação de Actores pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 2008, concluiu o Curso Europeu de Aperfeiçoamento Teatral École Des Mêtres, dirigido pelo encenador brasileiro Enrique Diaz (CIA dos Atores). Pós-graduado em Empreendedorismo e Estudos da Cultura – Ramo de Gestão Cultural, no ISCTE. Trabalha em Teatro, Cinema e Televisão. Desenvolve o seu trabalho em torno da diversidade artística e mediação cultural. Fundou a Terra Amarela – Plataforma de Criação Artística Inclusiva em 2018. Colaborou com a Escola Superior de Teatro e Cinema, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Lusófona, IADE, Escola Superior de Educação, Escola profissional de Imagem, Acesso Cultura e Fundação Calouste Gulbenkian, através da realização e coordenação de seminários, Formações, consultoria e estágios nas áreas do teatro, da educação pela arte e da mediação cultural.
Marta Sales é actriz. Desde tenra idade andou em duas escolas em simultâneo, uma normal perto de casa e outra em Lisboa, focada na terapia de fala. Por volta dos 11 anos, ficou integrada a tempo inteiro numa escola em Torres Vedras até completar o ensino secundário. Formou-se em Engenharia Informática e de Computadores no Instituto Superior Técnico de Lisboa. Durante 18 anos, trabalhou como consultora e programadora para grandes empresas, até ter a coragem de mudar a sua vida. Aprendeu língua gestual portuguesa e teatro. Desde então, participou em várias peças amadoras na Associação Portuguesa de Surdos e peças profissionais na Vo’Arte e na Terra Amarela.
António Mendes (Tony Weaver) é actor. É surdo profundo numa família ouvinte. Informático de formação, mas apaixonado desde sempre pelas artes, começou o seu caminho dentro da Comunidade Surda, junto da Associação Portuguesa de Surdos, em que encenou peças de teatro com e para pessoas Surdas. Em 2008, conclui o curso quadrienal de Teatro com Rita Salema, um percurso não simples, por ser o único Surdo numa turma de ouvintes, mas que enriqueceu o seu caminho profissional. A sua presença começou a sensibilizar a comunidade ouvinte. Em 2017 fundou FILMESURDOS, uma estrutura que lhe permitiu dar continuidade a um trabalho começado em 2011 e que conta com 15 longas-metragens e 9 curtas-metragens em que participa como actor e realizador. No seu percurso como actor em projectos que integram a comunidade Surda e ouvinte, destacam-se: “A fada Juju e a festa dos sentidos” (Plano 6, 2017); “3,50 x 2,70” (CIM Sign+Sound, Vo’Arte, 2018); “Aldebarã” (Terra Amarela, 2019) e “Zoo Story” (Teatro Nacional D. Maria II, 2022). Actualmente, é director artístico no projeto europeu “Beyond Signs”, que pretende melhorar a integração social da comunidade Surda através da cooperação artística; participante directo no Projeto “A Alegoria da Caverna” (iniciativa “Partis & Art for Change” Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação “la Caixa”, 2021/2022). Participou no curso de formação teatral para artistas S/surdos, dirigido pelo actor e encenador Marco Paiva (Janeiro- Junho 2022, Teatro Nacional D. Maria II).
Melissa Rodrigues
3 de Abril
Visibilidade, Invisibilidade, Tokenismo e Contra-narrativas
Neste seminário, concebido como uma conversa, o diálogo será activado através da observação e análise conjunta de textos, artigos, notícias, imagens e reflexões e questionamentos sobre a Presença e Ausência de artistas e agentes culturais negres no sector cultural português.
Melissa Rodrigues (Praia, Cabo Verde, 1985) é performer, arte-educadora, activista e curadora independente. Licenciada em Antropologia UNL/FCSH e pós-graduada em Performance pela FBAUP. Como investigadora nas áreas da Performance e Cultura Visual, tem desenvolvido pesquisa em Imagem e Representação do Corpo Negro e das Subjectividades Negras Afrodiaspóricas. Colaborou com vários serviços educativos, como o Serviço Educativo de Museu de Serralves. Actualmente colabora com o Serviço Educativo do CAM – Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e co-coordena o Projecto Educativo e de Participação do HANGAR. Como artista visual, interessa-se por trabalhar em colaboração com outras/os artistas e colectivos, tendo apresentado o seu trabalho em exposições colectivas e individuais, festivais, conferências académicas, talks e encontros interdisciplinares. Desenvolve projectos de curadoria em espaços independentes e em parceria com instituições culturais. Integra a UNA – União Negra das Artes, a Rampa e o projeto Arquipélago.